Por Andrei Netto - Publicado por Estadão
PARIS - A menos de cinco meses da conferência Rio+20, no Rio de Janeiro, autoridades políticas e líderes
ambientalistas europeus estão preocupados com a suposta 'falta de foco'
das propostas feitas pelo governo do Brasil, organizador do evento. As
críticas sobre as prioridades brasileiras, antes feitas a portas
fechadas, foram externadas em público nesta terça-feira, 31, durante
encontro em Paris. O temor é de que, alargando as discussões, a Rio+20
não resulte em nada.
A insatisfação começou a ficar clara com o
lançamento, no início de janeiro, do chamado Draft Zero - o rascunho de
declaração final do evento preparado pelo governo brasileiro e submetido
às autoridades estrangeiras e à sociedade civil. O documento estabelece
como prioridades da conferência os temas da 'economia verde no contexto
do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza' e o 'quadro
institucional' para alcançar tal objetivo.
Nas 21 páginas do
rascunho são citados temas 'clássicos' do ambientalismo, como segurança
alimentar, agricultura sustentável, gestão racional da água, acesso à
energia e o estímulo às fontes renováveis, entre outras propostas.
Também têm lugar as novas questões do desenvolvimento sustentável, como a
criação de empregos 'verdes'.
O ponto polêmico é que a tudo isso a
presidência brasileira adicionou temas caros à agenda diplomática do
País, como a luta contra a pobreza e a fome, os objetivos do Milênio, as
relações Sul-Sul, a crise econômica na Europa e até a 'transparência da
informação' - que têm pouca relação direta com meio ambiente.
Segundo
o embaixador André Correa do Lago, diretor do Departamento de Meio
Ambiente do Itamaraty, o objetivo é devolver ao evento seu caráter
histórico, colocando lado a lado temas como economia, sociedade e
ambiente. Com base nesses três 'pilares', seria discutida a nova
'governança internacional'. 'O Brasil não quer que a nova governança
seja de meio ambiente, e sim que ela seja voltada para o desenvolvimento
sustentável, ou seja, que acentue que o meio ambiente deve estar no
contexto social e econômico', explica Lago.
Entre os exemplos das
questões levantadas pelo Brasil para a Rio+20, diz o diplomata, está
discutir se a estratégia da União Europeia para enfrentar a crise da
Grécia com políticas de austeridade fiscal é o melhor caminho. 'Nós
passamos por esse tipo de tratamento de choque nos anos 80 e 90 e
sabemos que não traz bons resultados em longo prazo', diz Lago. Pautando
esses temas, o Itamaraty pretende fazer da Rio+20 um G20 voltado para
discussões sobre o futuro.
Reação. Ontem, durante a conferência Em
Direção a uma Nova Governança Mundial de Meio Ambiente, realizada em
Paris, líderes políticos e ambientalistas criticaram as ambições do
Brasil. De modo geral, os europeus querem acentuar a discussão
ambiental. A França, por exemplo, defende que a Rio+20 se concentre em
negociações diplomáticas para a criação da Organização Mundial de Meio
Ambiente (WEO, na sigla em inglês).
'Quanto mais falamos sobre
crescimento verde e menos sobre governança, mais estamos perdendo o
foco', disse ao Estado a ministra francesa do Meio Ambiente, Nathalie
Morizet. Jean Jouzel, vice-presidente do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU que reúne especialistas em
clima, também entende que a Rio+20 precisa ser mais conclusiva e menos
filosófica. 'Quando analisamos por que não andamos mais rápido na
proteção ambiental, é também porque faltam instituições para lidar com o
tema de forma objetiva', acredita.
Para Gerard Worms, presidente
da Câmara de Comércio Internacional (ICC), a Rio+20 carece de coerência.
'Lutar contra a pobreza é importante, mas não é o mesmo que lutar pelo
meio ambiente. A causa já é muito vasta e avança pouco. Ou se mantém o
foco ou não se avançará.'
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