Um grupo de especialistas mundiais em meio ambiente publicou um documento
reunindo um conjunto de recomendações para os líderes governamentais sobre ações
necessárias e urgentes para compatibilizar desenvolvimento econômico com a sustentabilidade
ambiental e social do planeta.
Intitulado Desafios ambientais e desenvolvimento: o imperativo para agir, o
documento foi elaborado por 20 cientistas laureados com o Blue Planet Prize.
Concedido pela fundação japonesa Asahi Glass Foundation desde 1992 – por
ocasião da realização no Rio de Janeiro da Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como ECO-92 –, o prêmio é
considerado o “Nobel do Meio Ambiente”, dado que a máxima distinção científica
concedida pela Fundação Nobel não premia essa área de pesquisa.
Entre as personalidades laureadas com o prêmio, cujo nome é inspirado na
máxima “a Terra é azul”, cunhada pelo cosmonauta russo Yuri Gagarin (1934-1968)
após viajar pelo espaço, em 1961, está Gro Harlem Brundtland.
A diplomata presidiu no início da década de 1980, quando era
primeira-ministra da Noruega, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento criada pela Organizaç]ao das Nações Unidas (ONU) e coordenou a
realização do documento nomeado Nosso futuro comum, publicado em 1987 e mais
conhecido como Relatório Brundtland, que popularizou a expressão
“desenvolvimento sustentável”.
O prêmio também foi concedido em 2008 a José Goldemberg, professor do
Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), que era
secretário do Meio Ambiente do Brasil durante a ECO-92.
Algumas das recomendações dos cientistas no documento são eliminar os
subsídios em setores como os de energia, transporte e agricultura, que, na
opinião dos autores, criam custos ambientais e sociais, e substituir o Produto
Interno Bruto (PIB) como medida de riqueza dos países.
Na avaliação dos autores do artigo, o índice é incapaz de mensurar outros
indicadores importantes do desenvolvimento econômico e social de um país, como
seu capital social, humano e natural e como esses dados se cruzam. Por isso,
poderia ser substituído por outras métricas, como o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH).
“O PIB só mede transações econômicas, que não é a única medida para se
avaliar o progresso de um país. Há países como Cuba, que tem um desempenho
econômico muito ruim e PIB e renda per capita baixos, mas cujo sistema
educacional e de saúde são excelentes”, disse Goldemberg à Agência FAPESP.
Outras recomendações dos cientistas são conservar e valorizar a
biodiversidade e os serviços do ecossistema e criar mercados que possam formar
as bases de economias “verdes” e investir na criação e compartilhamento do
conhecimento, por meio da pesquisa e desenvolvimento, que, na opinião dos
autores, permitirão que os governos e a sociedade, em geral, “possam compreender
e caminhar em direção a um futuro sustentável”.
“Em síntese, a mensagem do documento é que não se pode seguir uma trajetória
de desenvolvimento cujo único parâmetro seja o crescimento econômico”, avaliou
Goldemberg.
“Isso é muito comum no Brasil, por exemplo, onde os economistas dizem que a
economia do país deve crescer 5% ao ano, mas se nesse processo a floresta
amazônica for destruída, para muitos deles está tudo bem, porque o PIB está
aumentando e gerando atividade econômica. Porém, se por um lado é gerado valor
econômico, o país perde sua biodiversidade e futuro”, ponderou.
O documento foi apresentado em 20 de fevereiro aos ministros de mais de 80
países que participaram da 12ª Reunião Especial do Conselho de Administração do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e do Fórum Global de
Ministros do Meio Ambiente em Nairóbi, no Quênia.
O cientista inglês Bob Watson, que coordenou a redação do documento e o
apresentou em Nairóbi, presidiu o Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) e atualmente é o principal conselheiro científico do Reino
Unido para questões ambientais.
Alerta para a RIO+20 - De acordo com Goldemberg, um dos
objetivos do documento é que a RIO+20, que
será realizada no Rio de Janeiro de 20 a 22 de junho, resulte em resoluções
concretas como as que emergiram na ECO-92, em que foi aprovada a Convenção do
Clima.
“Os preparativos da conferência estão dando a impressão de que ela será mais
um evento de natureza retórica, o que será muito ruim. Ainda não há nenhuma
proposta de assinatura de uma nova convenção ou de protocolos”, afirmou.
Goldemberg participará em 6 de março da abertura do evento preparativo para a
RIO+20 “BIOTA-BIOEN-Climate Change Joint Workshop: Science and Policy for
a Greener Economy in the context of RIO+20”, que a FAPESP realizará nos dias
6 e 7 de março no Espaço Apas, em São Paulo. http://www.fapesp.br/rio20/
Em sua palestra, na abertura do evento, Goldemberg abordará o papel da
biomassa no contexto do desenvolvimento tecnológico e apresentará alguns pontos
do documento.
O artigo Environment and development challenges: the imperative to act, de
Golbemberg e outros, pode ser lido em clicando aqui.
Por Elton Alisson, Agência FAPESP
Publicado por Ambiente Energia
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