Por Cristina Tavares Correia - Publicado por Activa/Beleza e Saúde
A ciência confirma-o: o pensamento positivo faz toda a
diferença… para melhor. No amor, na cura de uma doença ou na progressão
profissional. Um psiquiatra dá-nos estratégias para o praticarmos… e
sermos mais felizes.
O optimismo é uma das chaves da felicidade. Assim pensa Luís Rojas
Marcos, psiquiatra espanhol radicado nos EUA, autor do livro ‘A Força do
Optimismo’ (Esfera dos Livros). É professor na Universidade de Nova
Iorque, onde concluiu também um doutoramento em Ciências Médicas. À
conversa com o psiquiatra, em Lisboa, descobrimos que ser optimista é
“uma questão de sobrevivência”: os optimistas fazem mais amor – por isso
geram e criam filhos optimistas – e têm uma atitude pró-activa na busca
do seu bem-estar. Nesta obra, Rojas Marcos dá algumas estratégias para
fomentar esta atitude e ser mais feliz.
ARREGACE AS MANGAS E SEJA PRÓ-ACTIVA
Os optimistas fazem com que as coisas aconteçam, revertem as
circunstâncias a seu favor. “Sabe porque é que os estudos clínicos
provam que eles têm mais possibilidades de cura? Porque tomam os
remédios e seguem à risca a medicação! Um pessimista acha que nada irá
fazer efeito”, explica Luís Rojas Marcos.
O psiquiatra cita no seu livro um projecto dirigido por Martin
Seligman em finais da década de 80 em que se dividiram os candidatos a
vendedores de seguros de uma companhia em ‘optimistas’, ‘pessimistas’ e
‘comandos especiais’. Os últimos tinham chumbado nas provas de aptidão
mas a sua confiança era tão grande que se recusavam a render-se perante
um ‘não’ de um possível comprador. A verdade é que foram superiores aos
‘optimistas’ em 26% e aos ‘pessimistas’ em 57%. Conclusão? Quem toma a
iniciativa sem medo do fracasso tem mais tendência para aceitar
propostas, seja a nível de trabalho ou a nível pessoal. “As pessoas que
esperam conseguir aquilo a que aspiram tendem a trabalhar mais tempo e
mais intensamente”, acrescenta Rojas Marcos.
RIA PARA EXORCIZAR A TRISTEZA
Na rábula final de ‘A Vida de Brian’, o mítico filme dos Monty
Python, uma multidão de crucificados canta alegremente a música ‘Always
Look at the Bright Side of Life’ (‘Olha sempre para o Lado Feliz da
Vida’). Nonsense do melhor mas que, afinal, não anda longe do ideal.
Fazer humor em momentos de desconforto e rir até na adversidade são
modos de exorcizar a tristeza, o sofrimento. Também há razões biológicas
para procurarmos a boa disposição: o riso despoleta a produção de
seratonina, que, para além de proporcionar bem-estar físico, baixa os
níveis de cortisol, a hormona do stresse. Afinal, parece que o velho
ditado português ‘Muito riso, pouco siso’ pouco tem de verdade.
RESPEITE-SE! ABAIXO O COMPLEXO DE CULPA
A culpa é um dos maiores mecanismos de controlo social, mas também um
dos sentimentos que mais envenenam a felicidade. O psiquiatra chama-lhe
a ‘tirania do deveria’: um conjunto de pensamentos negativos que minam a
nossa autoconfiança. “Isto acontece quando a pessoa pensa que é
absolutamente obrigada a ser, sentir ou comportar-se de maneira utópica,
incompatível com a sua personalidade, com a situação ou simplesmente
impossível de realizar para qualquer ser humano. Expectativas
irracionais e inatingíveis costumam alimentar sentimentos de fracasso,
de culpa, de desmoralização e até de ódio em relação a si mesmo.” É o
que acontece a uma vítima de violência doméstica que acha que é sua a
culpa do comportamento violento do parceiro/a ou a uma mãe que se acha
incompetente porque o seu filho adoeceu.
TENHA OBJECTIVOS E EXPECTATIVAS POSITIVAS
Os optimistas são pessoas que esperam que as coisas lhes corram bem
mas que também se predispõem a isso. Rojas Marcos relembra a tarde em
que encontrou uma fila enorme de gente que esperava para fazer a sua
aposta na Lotaria, resistindo a uma tempestade medonha. Quando perguntou
a um casal por que o faziam e se sabiam que a hipótese de lhes sair
qualquer coisa era mais remota do que a de um raio lhes cair em cima, os
dois responderam que, em teoria, sim. “Mas isso não os preocupava,
porque se sentiam mais perto da sorte grande do que da faísca.” O
psiquiatra salienta ainda a importância de perseguirmos objectivos
alcançáveis e não quimeras impossíveis.
A esperança na felicidade futura é mais importante do que a sorte que
se tem na vida presente, revela o escritor e filósofo espanhol José
Marías. “Quando dizemos que somos felizes, o que sentimos é que iremos
ser felizes amanhã. São estas expectativas que nos fazem saltar de manhã
com vontade, porque sabemos que nesse dia iremos conseguir realizar um
objectivo. Ajudam-nos a sentir seguros e confiantes no nosso ir e vir.”
CULTIVE A SUA ESPIRITUALIDADE
Quem pratica alguma forma de religião aumenta a sua saúde física e
mental – sofre menos de ansiedade e hipertensão, provam alguns estudos
sobre esta matéria. Aprende-se a dar um sentido a um mundo que parece
desprovido dele, a ver a vida como um todo, a dar importância ao que
realmente é prioritário. A escritora inglesa Kate Armstrong diz no livro
‘Uma História de Deus’ que é muito mais importante que uma ideia sobre
Deus funcione e cumpra o seu objectivo do que seja lógica ou racional.
Rojas Marcos acrescenta que “muita gente constrói a sua própria
espiritualidade, sem deuses nem anseios de eternidade.” Também já ficou
provado o poder da oração na cura de doentes por quem a ciência nada
mais pode fazer.
AME PERDIDAMENTE E DEIXE-SE AMAR
As pessoas que têm um parceiro, família ou grupo íntimo de amizades
sentem um nível de satisfação muito maior do que os que vivem sozinhos,
como revelam centenas de investigações. A paixão leva o cérebro a
produzir substâncias, como a dopamina, que proporcionam sentimentos de
euforia, felicidade e bem-estar. Os casais com sorte, diz Rojas Marcos,
passam à fase seguinte, mas o que começa a faltar em turbilhão de
emoções e hormonas é compensado por vínculos fortes de carinho,
lealdade, interesses em comum e amizade. “As relações estáveis de
carinho não só constituem uma fonte de satisfação na vida como são um
antídoto muito eficaz contra os efeitos nocivos de todo o tipo de
desgraças”, escreve Rojas. Um estudo da Universidade de Cornell, nos
EUA, citado pelo autor, descreve como as pessoas optimistas se sentiam
mais à vontade com afirmações como ‘Geralmente é-me fácil aproximar dos
outros e sinto-me bem dependendo deles’ ou ‘Não me incomodo quando
outras pessoas se aproximam de mim e dependem de mim’. Quanto mais
pessimista é a pessoa, mais procura esquivar-se a relações íntimas.
PONHA AS COISAS EM PERSPECTIVA
As pessoas mais felizes são capazes de se lembrar primeiro das
experiências mais felizes, dos êxitos e das relações que as enriqueceram
e de as porem à frente das memórias negativas. Charles Thompson,
psicólogo da Universidade do Kansas, pediu a pessoas que mantinham
diários pessoais há mais de 15 anos para os consultar. Depois pediu-lhes
que recordassem os acontecimentos mais importantes desse período. A
maioria minimizava o impacto dos fracassos. É por isso que, perante uma
adversidade, um optimista dirá quase sempre “podia ser pior” ou que
essas lutas o prepararam melhor. Pelo contrário, um pessimista
confrontado com um golpe de sorte desconfiará ao ponto de dizer que “não
há almoços grátis”.
DÊ MAIS IMPORTÂNCIA AOS PEQUENOS PRAZERES
São os pequenos prazeres quotidianos que ajudam a melhorar o estado
de espírito. É o que revela um inquérito da revista ‘Time’ e um estudo
recente do psicólogo e economista Daniel Kahneman. Neste ‘campeonato’
estão as conversas com amigos e família, brincar com o animal de
estimação, ouvir música, rezar ou meditar, tomar um banho relaxante,
ajudar os outros, fazer exercício, comer, passear de carro e… fazer
sexo. Para uma mãe de família, basta ter algum tempo só para ela, a
assistir ao seu programa de televisão preferido. “Factos simples, como
encontrarmos inesperadamente uma moeda no depósito de troco de um
telefone público, ver uns minutos de um filme cómico, receber um ramo de
rosas ou darmo-nos conta de que executámos bem uma tarefa, são
suficientes para aumentar o nosso nível de optimismo”, diz o psiquiatra.
Os momentos de alegria moderada beneficiam a memória, a resolução
criativa de situações, a tomada de decisões, a aprendizagem, a motivação
e os nossos relacionamentos. Aprender a apreciar as pequenas alegrias
faz-nos perceber que, afinal, a vida pode ser uma experiência
gratificante... e positiva.
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